domingo, 6 de janeiro de 2013

Gatos-A utilidade dos inúteis

A utilidade dos inúteis

A utilidade dos inúteis

Sempre me conheci com gatos,
a violeta a primeira,
era selvagem apanhada à gato das botas,
gata tartaruga, com laranja, preto, branco,
a segunda sua filha da primeira ninhada aquando comigo,
chamava-se Maia,
sim em homenagem à abelha,
era cinza claro e cinza escuro,
refiro apenas estas duas matriarcas,
foram as gatas que tive,
e com quem aprendi,
a proteger quem amamos,
como elas protegem os flhos e como eu protegia-as a elas e aos filhos,
de um tal "Piolho" de alcunha,
que matava os meus lindos gatos,
coitado,
vida traiçoeira que teve,
afundava os meus lindos,
em água no rio,
e a água escorria pelo meu rosto,
encostado à vidraça da sala do primeiro andar,
onde ficava a ouvir os miares aflitivos,
das mães durante semanas,
sim porque gatos para a mãe só servem para comer,
e gastar-se dinheiro neles,
coisa horrorosa,
gatos,
para quê?
para ter despesa...
ainda bem que tive os que pude e os que conseguia esconder até estes abrirem os olhos,
e já despertos para a vida no quintal em estado semi selvagem,
minha mãe não tinha coragem de os mandar matar.
A estas duas matriarcas, Violeta e Maia,
sucederam-se hordes de gatos,
machos reprodutores,
outros mais sensíveis,
sim também há gatos gatossexuais se assim quiserem dizer,
aqueles que dê para o que der não produzem prole,
nem se sentem atraídos pelas fêmeas.
não são simples casos de esterilidade segundo observação minha.
o que minha mãe não sabia e eu fiquei a saber,
é que os gatos nos protegem de contraírmos a toxoplasmose,
ou pelo menos aumenta as nossas defesas imunitárias.
Soube pois aos meus 15 anitos quando fui ser madrinha de uma menina linda à Alemanha,
a minha familiar mãe possuía elevados anticorpos contra a toxoplasmose,
caso raro naquela altura na Alemanha,
pânico,
a bebé linda corria sérios riscos de vir com a saúde alterada,
como hoje está estudado e descrito na literatura cientifica e médica,
mas a minha familiar mão não tinha a doença,
acontece que ela tal como eu sempre contactámos com gatos em estado semiselvagem sem irem ao veterinário.
E não foi por isso que as doenças graves apareceram,
quem sabe não é por isso que ainda sobrevivemos a cancro de mama?
perguntam-me qual a relação,
quanto mais eficiente o sistema imunitário,
maior a resistência ao enfraquecimento deste durante a quimioterapia.
então encontraram utilidade naqueles que só comem e dormem, mas que como todos existem,
aqueles com os quais se gasta muito dinheiro e que convém,
eliminar da protecção social, todos,
até os gatos aparentemente sem qualquer utilidade senão de companhia,
podem salvar vidas,
podem ensinar e educar e acima de tudo estar simplesmente ali,
em silêncio,
interiorizando tudo e todos,
feito rosa em botão,
que desabrocha só quando todas ou quase todas as condições,
não forem adversas à sua beleza.

Elsa Pereira.
6-01-2013

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

1º dia de 2013 no interior Alentejano

Novamente guardando cabrinhas,
o pastor ainda ali está,
olhando-as,
vivendo sem ser voyeur,
com Nossa Senhora de Machede,
ali por por perto com a sua ponte,
que a ribeira riacho ou rio,
atravessa,
para local de habitação e culto,
a esta senhora,
mais uma que é sempre a mesma,
a virgem mãe de Cristo,
que assume nomes de acordo,
com as localidades,
com o Natal já passado,
o solstício e a lua cheia,
o fim do mundo mediatizado,
as explosões solares,
e o humano ignorado,
volta um novo ano,
com desejos simpáticos,
percursos de outros bem mediáticos,
e o meu bem enfático,
onde sobressai a paisagem e o humano,
a garça no rio e o verde,
do plano que se estende,
pelo Alentejo interior,
ao longe e ao meu redor,
onde me aventuro,
e perduro,
neste misto de verde e azul,
branco e cal,
água doce e sal,
indispensável para a vida temperar,
e o caminho amenizar,
entre sentimentos,
em atitudes,
longe de palavras usadas,
deturpadoras e deturpadas,
que são tudo o que temos,
nadas,
que nos dizem tanto quando são sinceras,
e nada se austeras,
vindas de que dá com o coração,
e com a mão,
muito mais do que diz,
e escreve,
simplesmente,
sendo quem deve,
cumprindo a seriedade de ser quem é,
sem subterfúgios ou fé,
e se ergue ao volante,
mostrando,
a sua visão do mundo,
aquele onde quero ficar até,
sair do concreto,
e me despedaçar em alimento,
das ervas que crescem,
em jardins humanos,
que deles têm os átomos,
sim, um dia quero ser um átomo,
de uma folha de giesta,
ou oliveira,
correr entre as águas,
percorrendo pedras,
infiltrando-me nas raízes,
que um dia hão-de crescer,
e alimentar crianças felizes,
por aqui por este Alentejo de paisagem eterna,
e morna,
como o dia de hoje que lembrou,
Primavera, na aldeia do Concelho de Alenquer,
aquela onde vivi,
aquela que me viu,
me olhou e criticou mas nunca sentiu,
a não ser por breves momentos,
quando lá olhei o firmamento,
um dia pela mão de quem me amou.

3-01-2013
Elsa Pereira.