segunda-feira, 23 de julho de 2012

Poesia apresentada na primeira e única exposição


Aprendiz de poeta
brinco com as palavras
que outros antes de mim escreveram
em lágrimas e sangue que verteram

como a criança que aprende,
já não são só os jogos que ensinam,
mas os quadros pintados,
com sentimentos suados,
calvários vividos por amores perdidos
e o sofrimento do perdão humano
(demasiado humano), na dor da paixão.

Foi nesta iniciação de ilusão
Que sem querer acabei na solidão,
E as palavras que escrevo são aquelas que aprendi
Entre lágrimas vertidas
Sobre as ilusões vividas (…)
O sentido da dor que não é minha.

José Maria Almeida, in Amo um Anjo. Ed. de autor, 2011.






O tempo que eu hei sonhado
Quantos anos foi de vida!
Ah! Quanto do meu passado
Foi só a vida mentida
De um futuro imaginado

Aqui á beira do rio
Sossego sem ter razão.
Este seu correr vazio
Figura anónimo e frio,
A vida vivida em vão.

O Andaime, Fernando Pessoa.















És melhor do que tu
Não digas nada: sê!
Graça do corpo nu
Que invisivel se vê.



Desligo da minha alma a melodia
Que inventei no ar, tombo das imagens
Como um pássaro morto das folhagens
Tombando se desfaz na terra fria.






Os pássaros começam onde as árvores acabam.

Ruy Belo, algumas proposições com pássaros.


Mas quando eu morrer, só por geometria,
Largando a vertical, ferida do ar,
Façam à Portuguesa, uma alegria para todos;
Distraiam as mulheres, que poderiam chorar;
Dêem vinho, beijos, flores, figos a rodos,
E levem-me só horizonte para o mar.

Vitorino Nemésio, Outro testamento











Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
Vale mais que uma vida ou a alegria de tê-la.
É isto o que mais importa-essa alegria.

Jorge de Sena, carta a meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya.









Singra o navio. Sob a água clara
Vê-se o fundo do mar, de areia fina…
Impecável figura peregrina,
A distância sem fim que nos separa.


Por isso te digo
Que vou levar-te o mar
Na concha da minha mão, azulissimo
Para que nele
Descubras o meu nome,
Entre os seixos,
Os búzios, os rostos que já tive.









A Casa
hoje
pela primeira vez acendo o lume em casa

e reparo
que é pela chaminé que sai o fumo
e entra o ar
e melhor se ouvem os pássaros
que chilreiam nos choupos
e se escutam
os automóveis que à distância passam no asfalto

verdade

- a chaminé da casa
é como que uma antena de rádio

se quisesse prescrutar os astros
seria aí que ficaria atento
às mensagens
de nossos camaradas
de Gemini de Andrómeda

por outro lado
parece intuitivo que é pela chaminé
que a casa respira e fala
e diz coisas bonitas e às vezes disparates
e canta quando está alegre
e chora se está triste

perdão
a casa chora pelas janelas

é pelas janelas que a casa chora
se está triste
- com as suas velhas grades ferrugentas
como pestanas orvalhadas
de quem dorme ao relento
mas resiste

pelas portas
é por onde a casa come
e evacua
e deixa entrar o vento
que a limpa de memórias
que a povoam por dentro

transpira pelas paredes
vê-se agora
mal o frio e a chuva se insinuam
escorrendo camarinhas de suor
do cansaço
de um ano de fadiga

os cabelos da casa são as telhas
sob as quais pardais procriam
se divertem
desassossegando a casa como piolhos intratáveis

esta não é a minha casa
como a de Régio
"feita para eu morar nela"

- é a casa possível
fruto um pouco do acaso
como tudo em minha vida

embora eu goste dela
dialogue com ela
como se ela fosse
de todas a minha melhor amiga

António Saias





Já fui aquela que perdeu a Esp’rança
E errou espasmas noutes sem termino,
Entre a treva das selvas pavorosas,
E a que lembrou os tempos de criança!...
E já fui como a sombra da saudade
Amando a Lua pela imensidade!

E a lua para nós os braços estendeu.
Uniu-nos num abraço,
Espiritual, profundo:
Mas ai tu não voltaste
E eu regressei ao Mundo.









E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
Nunca mais são os mesmos. E por vezes…

Sim à beira do vazio compreendeu o mais importante…
Que só voa quem se atreve a fazê-lo

Luis sepúlveda

Surgiste,
Com água entre as mãos,
E lavaste-me a alma com o coração.
Olhando o infinito ansiei pela vida
Em silêncio disseste mais do que todos os sons do Mundo
Um gato, a água, um deserto de calor.
Sim à beira do vazio entendi o mais importante…

Já de tanto sentir a natureza,
De tanto a amar, com ela me confundo!
E agora quem sou eu? Nesta incerteza,
Chamo por mim. Quem me responde?
O Mundo.

Chamo por mim e a estrela me responde.
Chamo de novo; e diz o mar: Quem  Chama?
E diz-me a flor: Onde é que estás? Aonde?
Vede a sorte terrível de quem me ama.
Se a nossa voz crescesse, onde era a árvore?
Em que pontas, a corola do silêncio?
Coração já cansado és a raíz:
Uma ave te passa a outro país.

Coisa da terra são palavras:
Semeia o que calou.
Não faz sentido quem lavra
Só o não colhe do que amou.

Assim sílaba e folha, porque não
Num só ramo levá-las
Com a graça e o redondo de uma mão?
(tu não te calas? Tu não te calas?!)
A árvore do silêncio

Com uma simples frase e com o teu silêncio e respeito ensinaste-me o que era a liberdade,
E
Com uma simples frase fizeste eu ter coragem
Para pedir que esta exposição acontecesse.

Obrigada















Todo o passado revisto
Uma nova vida começou,
E agora Tu e eu,
E as memórias que nos atraiçoam,
Para quando a paz já atingida no Natal.
Quando o homem se torna dependente do material,
E não do espiritual, entra em conflito,
É tão necessário amar-te Como respirar,
Partilho tudo contigo,
Sabes tudo de mim e respeitas-me,
Aceitas-me como sou,
Partilhamos os mesmos gostos,
Ás vezes sou muito crítica,
Admiro-te,
Admiro a tua capacidade de ouvir e escutar,
De ver e olhar,
A tua sensibilidade,
E capacidade de diálogo.
Admiro-te por seres quem és,
E finalmente descobri que gosto de
Partilhar tudo contigo.
Adoro-te Carlos Loureiro.
Abraço e Beijo.
Mais do que uma exposição a ti dedico
O que me resta da vida.

Em cada homem há uma viagem para um planeta longínquo
José Gomes Ferreira

O tempo que se vive, não importa onde,
É sempre tempo de sermos
É sempre tempo de crescermos
Luísa Costa Pinto

Não foi para morrermos que falámos,
Que descobrimos a ternura e o fogo,
A palavra, a escrita, a doce música.

Jorge de Sena

Não há arte sem Homem, não há Homem sem arte.

E. M. de Melo e Castro






Como se pode comprar ou vender
O firmamento, ou ainda o calor da terra?
Tal ideia é-nos desconhecida.
Se não somos donos da frescura
Do ar nem do fulgor das águas,
Como poderão vocês comprá-los?

Carta do chefe índio Seattle ao chefe branco de Washington.

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